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Tratamento das Perturbações de Personalidade

Perturbações de personalidade não são “traços de feitio”, mas padrões duradouros de pensar, sentir e relacionar-se que causam sofrimento e bloqueiam a vida. Na RAN — Clínica avaliamos e tratamos perturbações de personalidade em contexto de saúde mental e adições, com psicoterapia especializada, acompanhamento médico e atenção às dinâmicas de co-dependência.

As perturbações de personalidade descrevem padrões de funcionamento interior e de comportamento que são duradouros, rígidos e desadaptativos. Surgem em geral no final da adolescência ou início da idade adulta, mantêm-se ao longo do tempo e afetam de forma significativa a relação consigo próprio, com os outros e com o trabalho. Não se tratam de “manias” passageiras: são quadros clínicos que exigem avaliação multidisciplinar e podem ser tratados com psicoterapia estruturada, apoio médico e trabalho consistente sobre as relações, incluindo situações de co-dependência.

1) Perturbações de personalidade: o que são

As perturbações de personalidade são definidas por um padrão persistente de experiência interna e de comportamento que se afasta de forma marcada do que seria esperado no contexto cultural da pessoa, é pouco flexível, está presente em várias áreas da vida e causa sofrimento ou prejuízo significativo. Este padrão costuma afetar a forma como a pessoa pensa sobre si e sobre os outros, como reage emocionalmente, como se relaciona e como controla os impulsos.

Na descrição da RAN — Clínica, as pessoas com perturbações de personalidade tendem a ter pensamento rígido, dificuldades de adaptação à realidade e padrões desadaptados de comportamento que se tornam evidentes desde cedo, muitas vezes já na adolescência. Estes padrões estão frequentemente associados a problemas nas relações sociais, afetivas, familiares e no trabalho, e podem coexistir com outras perturbações como depressão, ansiedade ou problemas de adição.

Existem diferentes formas de perturbação de personalidade (por exemplo, quadros com maior instabilidade emocional, impulsividade, perfeccionismo rígido, isolamento marcado ou desconfiança persistente). Mais importante do que o rótulo é perceber como é que o padrão afeta a vida e qual o tipo de apoio mais adequado.

2) Sinais, impacto nas relações e quando pedir ajuda

Em muitas pessoas, o funcionamento de personalidade é relativamente estável e adaptativo. Em contexto de perturbação de personalidade, pelo contrário, observa-se um padrão de dificuldades que se repete ao longo de anos e em diferentes áreas da vida. Alguns sinais que justificam avaliação especializada:

  • Conflitos recorrentes em relações próximas (família, parceiros, colegas), com ruturas frequentes ou relações muito instáveis.

  • Dificuldade em lidar com frustração, rejeição ou crítica, com reações emocionais muito intensas ou explosivas.

  • Sensação persistente de vazio, identidade pouco definida ou mudança frequente de objetivos, projetos e grupos de referência.

  • Impulsividade marcada (gastos, condução de risco, sexo de risco, consumos, compulsões), com consequências repetidas.

  • Padrões de controlo, ciúme, desconfiança ou necessidade de aprovação que condicionam de forma rígida o dia a dia.

  • Comportamentos auto-destrutivos, autoagressão ou pensamentos recorrentes de que “não vale a pena continuar”.

  • Uso de álcool, drogas, jogo ou outros comportamentos aditivos como forma de gerir emoções difíceis.

Um padrão particular, muito relevante em contexto de adições, é o da co-dependência: pessoas que vivem quase exclusivamente em função do outro (por exemplo, alguém com dependência de álcool ou drogas), com grande dificuldade em pôr limites, baixa autoestima, tolerância elevada a situações de abuso e tendência a ignorar as próprias necessidades. Nestes casos, é frequente haver sofrimento intenso, mas também uma grande dificuldade em pedir ajuda para si.

Peça ajuda se reconhecer em si ou em alguém próximo um padrão persistente destes sinais, com impacto relevante na vida pessoal, familiar ou profissional, ou se existir risco de autoagressão. Em situação de emergência, deve contactar os serviços de urgência ou o 112.

3) Como avaliamos perturbações de personalidade na RAN — Clínica

O diagnóstico de uma perturbação de personalidade exige tempo e equipa experiente. Na RAN — Clínica, a avaliação é feita considerando a história de vida, as relações, a saúde mental geral e eventuais adições, bem como o contexto atual (família, trabalho, justiça, etc.).

  • Entrevista clínica detalhada, focada em padrões de funcionamento ao longo da vida, crises passadas e estratégias de adaptação utilizadas.

  • Avaliação do funcionamento nas relações (familiares, afetivas, profissionais) e da forma como a pessoa gere proximidade, conflito e separação.

  • Rastreio de outras perturbações mentais (depressão, ansiedade, perturbação bipolar, trauma) e de comportamentos aditivos (álcool, drogas, jogo, medicação, internet, sexo, trabalho).

  • Identificação de padrões de co-dependência em familiares ou parceiros de pessoas com adições, quando presentes.

  • Avaliação sistemática do risco (autoagressão, comportamentos de perigo, situações de violência).

  • Definição de objetivos terapêuticos individualizados, ajustados à fase de vida, recursos disponíveis e prioridades da pessoa e da família.

Em função desta avaliação, decide-se a forma mais adequada de acompanhamento: em regime ambulatório, em programas mais estruturados ou articulando com outras modalidades de tratamento da RAN — Clínica.

4) Como tratamos: psicoterapia estruturada, apoio médico e trabalho com a família

A evidência disponível mostra que a psicoterapia é o tratamento de primeira linha para perturbações de personalidade. Dependendo do quadro e da gravidade, podem ser utilizadas diferentes abordagens estruturadas, sempre com foco no funcionamento interpessoal, na regulação emocional e na construção de um sentido de identidade mais estável. Em muitos casos, associa-se acompanhamento médico para tratar sintomas depressivos, ansiosos, perturbações do sono ou outras comorbilidades.

  • Psicoterapia individual especializada: trabalho regular sobre padrões de pensamento, emoções e comportamentos, ajudando a pessoa a reconhecer ciclos repetitivos nas relações, a desenvolver novas formas de responder a situações de stress e a construir objetivos de vida mais realistas e consistentes.

  • Contexto terapêutico estruturado: quando existe também dependência de substâncias, jogo ou outros comportamentos aditivos, a intervenção integra o trabalho sobre a adição, as perturbações de personalidade e as dinâmicas de co-dependência, de forma coordenada.

  • Acompanhamento médico/psiquiátrico: avaliação da necessidade de medicação (por exemplo, antidepressivos, estabilizadores do humor ou outros fármacos), definição de doses, monitorização de efeitos e segurança, articulando com Assistência Psiquiátrica quando indicado.

  • Terapias de grupo: integração, quando benéfico, em grupos terapêuticos que trabalham temas como relações, limites, gestão de emoções, autoestima e co-dependência.

  • Apoio à família e rede: sessões de educação e orientação para familiares e pessoas significativas, ajudando a compreender o que é (e o que não é) uma perturbação de personalidade, a sair de padrões de co-dependência e a apoiar sem substituir a responsabilidade de quem está em tratamento.

O tratamento é, por natureza, gradual e prolongado. Trabalhar uma perturbação de personalidade implica tempo, consistência e empenho, mas a experiência clínica e a investigação mostram que é possível melhorar o funcionamento, reduzir crises e construir uma vida mais estável.

5) Passo a passo do acompanhamento

  1. Primeiro contacto confidencial: escuta inicial, esclarecimento de dúvidas e triagem de risco.

  2. Avaliação clínica estruturada: entrevistas com o utente (e, se indicado, com familiares), análise de história de vida, relações, adições e saúde física.

  3. Formulação e plano terapêutico: devolução dos principais pontos da avaliação e definição conjunta de objetivos e prioridades.

  4. Implementação do tratamento: psicoterapia regular, eventual medicação, participação em grupos terapêuticos e envolvimento da família quando adequado.

  5. Reavaliações periódicas: pontos de situação para ajustar frequência, modalidades e objetivos do acompanhamento.

  6. Aftercare e prevenção de recaída: plano de continuidade, identificação de sinais de alerta e estratégias para gerir futuras crises ou períodos de maior vulnerabilidade.

6) O que pode fazer hoje

  1. Marcar uma conversa de orientação com a equipa da RAN — Clínica, mesmo que ainda não exista um diagnóstico formal. A avaliação ajuda a clarificar o que está a acontecer.

  2. Falar com alguém de confiança sobre o que tem vivido (ou sobre o que observa em alguém próximo), quebrando o isolamento e a ideia de que “tem de aguentar sozinho”.

  3. Começar a observar padrões: situações em que as mesmas dificuldades se repetem nas relações, no trabalho ou na forma de lidar com o stress. Levar estes exemplos para a consulta é muito útil.

  4. Se vive uma relação marcada por co-dependência (por exemplo, com alguém com adição), considerar pedir ajuda para si, e não apenas para o outro.

  5. Em caso de risco imediato (ideias suicidas com plano, violência grave, ruptura de controlo), contactar os serviços de urgência ou o 112 antes de qualquer outra coisa.


Conteúdo preparado pela RAN — Clínica. Última atualização: .

Como podemos ajudá-lo?

Perguntas Frequentes sobre Perturbações de Personalidade

Ter uma perturbação de personalidade é “para sempre”?
Qual é a diferença entre ter “uma personalidade difícil” e ter uma perturbação de personalidade?
Co-dependência é uma perturbação de personalidade?
O tratamento das perturbações de personalidade é sempre muito longo?